quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

poesia...

Soñando Cuentos, Raquel Díaz Reguera, Espanha


«Poesia é quando uma emoção encontra seu pensamento e o pensamento encontra palavras» 
Robert Frost

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Pereira afirma

Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi é um livro muito bom, que se lê num ápice. E mais uma vez agradeço ao Manuel Cardoso, do blogue Dos Meus Livros, por me ter dado a conhecer esta história. Já tinha ouvido falar do filme baseado nesta obra de Tabucchi, mas desconhecia que era passado em plena época salazarista. E este foi o principal motivo que me levou a lê-lo. Como não vivi no Portugal de Salazar, todos os livros que retratem histórias desses tempos de censura são sempre de apetecível leitura.

Tabucchi conta-nos a vida do doutor Pereira, que aparentemente seguia o seu curso sem grandes percalços e agitações. Muito embora tivesse perdido a sua mulher, o doutor Pereira tinha uma vida pacata. Trabalhava no jornal o Lisboa, era o responsável pela secção cultural, dedicava-se a escrever efemérides e a traduzir contos de autores estrangeiros, como Balzac, Maupassant, Daudet, etc.

Não fosse esta história passar-se num Portugal atemorizado e sob escuta, nada mais havia de interesse na vida deste homem, que falava com o retrato da sua esposa, ia ao café Orquídea para comer omeletes com salsa e beber limonadas umas atrás das outras.

Só que ao longo dos capítulos, vamos conhecendo outras histórias. Histórias que falam-nos de pessoas anónimas, que desaparecem ou morrem. Como a que se passou «no Alentejo, [em que] a polícia tinha matado um carroceiro que abastecia os mercados e era socialista»; ou aquela em que «a cidade parecia nas mãos da polícia, [pois] viam-se camionetas e guardas com espingardas, [que temiam] manifestações ou concentrações de rua»;  ou até mesmo a história do talho judeu, que tinha a montra toda estilhaçada e a fachada cheia de palavras «que o homem do talho estava a cobrir com tinta branca», mas estas histórias o Lisboa não publicava. Mas também quem é que as publicava? «Ninguém, porque o país calava-se, não podia fazer mais nada senão calar-se, e entretanto as pessoas morriam e a polícia fazia o que queria.» As conversas andavam de boca em boca, «para se saber de alguma coisa era preciso perguntar nos cafés, ouvir as conversas, era a única maneira de estar ao corrente, ou então comprar um jornal estrangeiro.»

O doutor Pereira não queria saber de políticas e como não queria tomar partido do quer que fosse, nada mais fazia do que dedicar-se à sua página cultural, onde tinha carta branca para publicar os seus contos traduzidos. Mas será que podia mesmo publicar tudo? Será que o doutor Pereira sentia-se realmente confortável na sua vida passiva? Ou será que a revelação da existência de um «eu hegemónico» mostra-lhe que aprecia mais a vida revolucionária dos jovens que tinha conhecido? Será que o doutor Pereira sentia necessidade de se definir, de se demarcar e de operar em si próprio uma mudança de atitude?

Por vezes há que tomar posições e Tabucchi mostra-nos isso mesmo, a tomada de consciência que é necessária, face às iniquidades de todos os dias. O doutor Pereira afirma.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

o «Lisboa» é um jornal independente

Lisboa, Portugal

«... mas desculpe, o que quer dizer um jornal independente em Portugal? Um jornal que não está ligado a nenhum movimento político, respondeu Pereira. Pode ser, disse o doutor Cardoso, mas o director do seu jornal, caro doutor Pereira, é uma personalidade do regime, aparece em todas as cerimónias oficiais, e estende sempre o braço, como um lançador de dardo. Isso é verdade, reconheceu Pereira, mas no fundo não é má pessoa, e no que diz respeito à página cultural deu-me carta branca. É cómodo, objectou o doutor Cardoso, de qualquer modo há a censura prévia, todos os dias, antes de sair, as provas do seu jornal têm de receber o imprimatur da censura prévia, e se houver alguma coisa que não agrade pode estar tranquilo que não é publicada, talvez deixem um espaço em branco, já me aconteceu ver jornais portugueses com grandes espaços em branco, dão-me uma grande raiva e uma grande tristeza.»
Afirma Pereira, Antonio Tabucchi

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

28

Lisboa, Portugal 

Sempre que saía de casa pela manhã os seus passos ligeiros encontravam-se com o 28, que em modo turístico percorria as ruas da cidade.
Havia certos dias ao fim da tarde que gostava de apanhar o 28 na Graça, para entrar num tempo passado. Debruçava-se sobre a janela e de olhar nostálgico tentava desvendar os mistérios da cidade que tanto lhe inspirava. Eram as praças, as ruelas estreitas e íngremes, as colinas e os miradouros, as casas de fado, as residências apalaçadas e as casas burguesas. Era um subir e descer. Era um sem fim de cheiros e sabores, de luz e cor... 
O 28 no seu percurso sem pressa seguia agora em direção ao Miradouro de Santa Luzia. Já o seu destino era a Praça Luís de Camões. Mas tinha tempo. Não iria apressar o fim da sua viagem.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

"o nome de Ivanhoe foi pronunciado"

Neste novo ano decidi dedicar-me mais à leitura. O mês de janeiro foi praticamente todo para um dos clássicos que já esperava por ser lido faz algum tempo. Ivanhoe, de Walter Scott foi sem dúvida um bom começo! 

Muitos de vós já ouvistes ou lestes várias histórias sobre o reinado do Rei Ricardo, Coração de Leão. E claro que todas elas são envolvidas em grandes aventuras de bravura, enaltecendo sempre o heroísmo dos nobres cavaleiros. Pois nesta, em que provavelmente até é o iniciar do primeiro romance histórico, Ivanhoe é o mais bravo cavaleiro da Idade Média. 

A situação da época era bastante conturbada e miserável. A coroa inglesa encontrava-se sem o seu rei. Ricardo tinha sido feito prisioneiro e o seu local de cativeiro era incerto, assim como o seu destino também era desconhecido pelos seus súbditos que, entretanto, estavam sujeitos a todo o tipo de opressões. O príncipe John, principal inimigo mortal de Coração de Leão, era um homem perigoso e cruel e como estava sedento de poder, tinha-se associado a Philip de França e usava a sua influência junto do duque da Áustria, para manter o seu irmão Ricardo indeterminadamente em cativeiro. A floresta era habitada por foras-da-lei, e o chefe de todos eles era o tão conhecido Robin Hood, da floresta de Sherwood.

Neste cenário de guerra surge Wilfred de Ivanhoe, o "Cavaleiro Deserdado", que tem de lutar pelo seu nome, pelos seus direitos, pela mulher que ama desde sempre, Lady Rowena, e que lutará pelo seu povo, ao lado de Ricardo, na recuperação do trono de Inglaterra.

«O nome de Ivanhoe foi pronunciado e a notícia espalhou-se de boca em boca com a celeridade que a sua curiosidade provocou. Não demorou muito a chegar ao círculo do príncipe, cujo semblante se escureceu ao ouvir as notícias.»

Também é bem visível em Ivanhoe, o destaque que Walter Scott dá à forte perseguição aos judeus, com a personagem da bela e doce Rebecca e Isaac, seu pai. Às lutas constantes entre Saxões e Normandos. Com Cedric de Rotherwood, "o saxão, homem de nobre nascimento" a rivalizar com Reginald Front-de-Boeuf, o barão com cicatrizes, que "exprimiam as mais medonhas e malignas paixões da mente". A estranha relação com os Templários, retratados pelo destemível e apaixonado Brian de Bois-Guilbert. E por fim os excessos da igreja.

Com um torneio de cavaleiros, constantes assaltos, uma batalha no Castelo de Torquilstone, uma misteriosa revelação do "Cavaleiro Negro", um salvamento a uma donzela judia e um casamento no final, Walter Scott tem assim, todos os ingredientes para o sucesso junto dos seus leitores. 

Termino, referindo apenas que a edição deste clássico para a coleção Os Grandes Génios da Literatura Universal não prima pela melhor tradução.

Pinturas populares (últimos 30 dias)