sábado, 24 de abril de 2010

"moinhos de vento ou a nostalgia do ideal"

Serra do Louro
«- A boa sorte guia as nossas coisas melhor do que poderíamos desejar; porque vês além amigo Sancho Pança, onde se avistam trinta ou mais descomunais gigantes, com que tenciono travar batalha e tirar a vida a todos, com cujos despojos começaremos a enriquecer; pois esta é uma guerra justa e um grande serviço a Deus tirar tão má semente da facee da Terra.
- Que gigantes? - disse Sancho Pança.
- Aqueles que ali vês - respondeu o amo - de braços compridos, que alguns costumam ter braços de quase duas léguas.
- Olha vossa mercê - respondeu Sancho - que aqueles que além se vêem não são gigantes, mas moinhos de vento, e o que neles parecem braços são as velas que, andando à volta com o vento, fazem girar a pedra do moinho.
- Bem se vê - respondeu D. Quixote - que não tens experiência de aventuras: eles são gigantes; e, se tens medo, sai daí e põe-te a rezar enquanto vou atacá-los numa feroz e arriscada batalha.
E, dizendo isto, esporeou Rocinante, sem fazer caso dos brados que o seu escudeiro Sancho lançava, avisando-o que, sem nenhuma dúvida, eram moinhos de vento, e não gigantes aqueles que ele ia atacar. Mas D. Quixote ia tão certo de que eram gigantes que nem ouvia os brados do seu escudeiro Sancho, nem conseguia ver o que eram, embora estivesse já muito perto; antes ia dizendo em altos gritos:
- Não fujais, cobardes e vis criaturas, que é um único cavaleiro que vos ataca.»
O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes

4 comentários:

Teté disse...

Nunca tendo lido o livro, esta é uma das passagens mais conhecidas, tanto por filmes como pelos resumos que dele fazem: onde D. Quixote vê gigantes, Sancho só vê vulgares moinhos de vento.

O que nos faz pensar que perante uma mesma imagem todos podemos ver objectos diferentes. Quem tem razão? Mistério! Até porque as aparências muitas vezes iludem...

Beijocas e obrigada pelas tuas sugestões de leitura!

Livros e Outras Coisas disse...

Ah! Aquele livro que há tanto quero ler... Talvez esta fosse uma das passagens da obra que mais me arrebatou e fez apaixonar pela figura literária do cavaleiro da triste figura, mas também pelos destemidos moinhos que enganam o vento.
Obrigada, em muitos tons de azul! :)

Graciela Bello disse...

Querida amiga: me gustan tus azules molinos de viento, que representan a las ilusiones...

Te aviso que mi blog cumple dos años y tú eres de las bloggers que conocí desde el principio.
Simepre eres bienvenida!
Un beso.

susemad disse...

Olá, amigos!

Esta é sem dúvida uma das obras que mais me maravilhou! Cervantes era um escritor muito à frente da sua época e um extraordinário contador de histórias. Nunca um livro me fascinou tanto! São quase 900 páginas, mas o autor consegue transmitir-nos uma mistura de sentimentos, que mal damos pelo tempo passar.

Sim esta passagem é a mais conhecida de todas as aventuras que o D. Quixote e o seu escudeiro Sancho Pança se metem! Mas todas elas são uma alegria para a alma e para o pensamento! :)

Abraços e beijinhos

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